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O lugar mais alto do mundo...

“... quem descobre não precisa dar a volta ao mundo pra ser feliz...”
“O pai que vê o filho crescer descobriu o melhor da vida!” Começo assim, com uma canção minha (“Quem ama não perde tempo”). Vou dizer o óbvio – embora esquecido, na maioria das vezes: o melhor da vida está muito perto, dentro de casa e quem descobre não precisa dar a volta ao mundo pra ser feliz.

Vou me lembrando, agora, uma notícia que me marcou no ano de 2006. Sobre um alpinista brasileiro, em sua segunda escalada ao topo do mundo (a 8.850 metros de altitude), o Monte Everest, que acabava de alcançar o grande feito pelo lado mais difícil e perigoso do pico. Desta vez ele pretendia chegar ao cume sem a ajuda do cilindro de oxigênio. Porém, algo irreversível aconteceu: durante a descida, já debilitado pelo extremo esforço pra respirar, não resistiu e morreu; o corpo daquele pai ficou por lá. Mais uma vida esquecida no topo do mundo.

Naquele dia uma entrevista chamou a minha atenção, quando mostraram uma gravação anterior do alpinista falando aos seus filhos: “... quero dizer para os meus filhos que eu os amo muito e que faço tudo isso pensando neles...”. Aquilo me chocou mais do que a notícia da morte. Fiquei me fazendo perguntas: “Como um pai tem coragem de deixar os filhos e a família para arriscar a vida tão longe de casa?” “O que justifica um pai de família em uma aventura tão perigosa?” E me perguntava indignado: “O que um filho mais quer e precisa que o pai faça por ele...?”. E eu cheguei à seguinte resposta: ele morreu por ele mesmo, pelos seus sonhos e projetos pessoais... E eu só pensava nos filhos sem o pai. Eu diria ainda, foi uma morte sem propósito, uma morte em vão, uma morte em conseqüência de um projeto absolutamente pessoal.

Quando uma mulher e um homem se tornam mãe e pai, perdem o direito de pensar primeiro em si mesmos; puseram uma vida no mundo e, portanto, tornaram-se responsáveis por ela. São palavras que ouvi do meu pai e, mais do que palavras, atitudes dele e de minha mãe que comprovam uma vida inteira gasta pelos filhos.

Vejo pais e mães trabalhando bastante e se gastando para dar o melhor para os seus filhos; isso é dever de quem ama (e cuida). Mas, também vejo muito pai e mãe se perdendo nas preocupações e ocupações da vida, perdendo tempo no distanciamento afetivo de seus filhos, roubando deles o que é de direito: colo, abraço, beijo, segurança afetiva, carinho, conversa, palavras bonitas, qualidade de presença, referência e pertença. Só de olhar pai e mãe juntos, bem, carinhosos e se respeitando, o filho cresce seguro e firme.

Fico pensando e querendo dizer pra todo pai e mãe do mundo: depois de um dia de trabalho chegue em casa e fique descalço, dê muito beijo nos seus filhos e, se ainda forem pequenos, brinque com eles no chão da sala – porque esse tempo não voltará mais. Abrace todos os dias e diga um “Deus abençoe!” antes de sair e quando chegar. Quando for à noitinha vá ao quarto deles e ponha a mão na cabeça dos seus filhos e reze – coisa simples, um “Santo Anjo”, ou um “Com Deus me deito...”; revezem, um dia vai o pai e no outro a mãe.

Compartilhe o cansaço e a vida difícil dentro de casa, sem sermão, sem conversa profunda demais, apenas com gestos cotidianos de um abraço mais demorado, uma louça lavada juntos, esposo e esposa deitados juntos no mesmo sofá, apertadinhos no calor do afeto. Guarde os domingos para irem juntos à Missa e não terem hora marcada, porque é dia da família.

Dar a volta ao mundo para chegar ao lugar mais alto, pode acabar em vitória vazia e solitária, uma glória fria distante de casa, sem o calor dos amados. Quem entendeu que o essencial sempre está muito perto, tem chegado ao Céu todos os dias e nunca sozinho."

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